ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL
Mário Carabajal
O ÍNDIO EM DESABAFO
(Produzido em 1983. Recortado da Obra Estado de Espírito, reeditado pela Editora Bezerra de Menezes em 1990.)
Irmão!
Que tremenda ansiedade
Me dá a cidade
Quando aqui eu estou!
Sinto que todos me olham.
Comentam, me cozam...
Como se eu não fosse o primeiro!
Verdadeiro brasileiro!
Sem cuzas com estrangeiro!
Só humilde...
Sei que sou!
Não participo destas Leis
Donde os índios - são ninguém!
Saibam!
Sou um animal.
Mas também racional!
Respeitem meu ideal
De viver com a natureza...
Tão bela!
Tão Pura!
Lá, tenho muito mais entre os verdores.
Tenho frutos.
Tenho flores,
Água e meus tambores
Para pedir a Deus o que faltar!
Em nada invejo tua cidade.
Tenho por limite - a imensidade!
Não castre minha liberdade.
Vivo na pobreza.
Não busco nenhuma riqueza,
A exemplo do 'Creador'.
Pobres homens irracionais!
Nos usam como animais
E fabricam todos os dias
Armas que cada vez matem mais.
E todos ...
Somente em buscas
De riquezas materiais.
Encontrem seus ideais!
Não vivam como animais!
Nos deixem viver em PAZ.
(Em dado momento, olhando para um índio, meio a uma multidão, atônita, inspirei-me, escrevendo este poema, na mesma linha de Pássaro Cativo, do excepcional e insuperável Olavo Bilac. Mário Carabajal. Em Boa Vista, Roraima, 17/fevereiro/1983.)